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3 O/A Estudante Como Centro do Processo de Ensino-Aprendizagem no Endino Híbrido

“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”.

(FREIRE, 1994, p. 2).

A escola é uma instituição importante na socialização e na formação para a cidadania, por meio da efetivação de processos educacionais complexos, integrais e integrados. Partindo dessa premissa, a escola assume o papel de articuladora das diversas experiências educativas que os(as) estudantes podem viver dentro e fora dela, a partir de intencionalidades pedagógicas claras e bem definidas, que favoreçam as aprendizagens, a sistematização de conhecimentos essenciais para o desenvolvimento integral dos sujeitos e para a construção de projetos de vida.

No contexto da pandemia da Covid-19, caracterizado pela suspensão das atividades escolares presenciais, torna-se ainda mais notável e necessária a definição das intencionalidades pedagógicas para a realização das atividades de ensino híbrido, levando sempre em consideração os seguintes questionamentos: quem são os(as) estudantes? Quais são suas condições de vida (social, material, afetiva, cultural)? Como os(as) estudantes e suas famílias se organizam dentro e fora de casa para tentar satisfazer plenamente suas necessidades da vida diária? Em que ponto estão nos processos de formação humana e de aprendizagem? O que a escola pode oferecer atende às suas necessidades? Quais são suas condições de acesso às tecnologias do mundo contemporâneo?

Essas e outras perguntas problematizam a condição do ser humano, do sujeito, do ‘ser estudante’. Desnaturalizar essa condição é necessário, porque essas respostas colaboram para o entendimento de que a educação é um processo formativo e contínuo, dependente das circunstâncias e dos contextos em que ele acontece e dos locais em que as experiências são vividas. Trata-se de um processo que ultrapassa as habilidades cognitivas pessoais e prepara crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos para a vida em sociedade com dignidade.

A centralidade no sujeito (criança, adolescente, jovem, adulto e idoso) é o ponto de partida para uma organização do trabalho escolar que tenha como foco o desenvolvimento dos(as) estudantes em todas as suas dimensões: intelectual, física, emocional, social e cultural. Reconhecer a pluralidade das dimensões dos sujeitos e suas peculiaridades no processo de desenvolvimento é condição necessária para o sucesso dos processos de ensino-aprendizagem que articulem os conteúdos escolares com os saberes da experiência. Cada sujeito é único na sua condição humana e é múltiplo, quando considerado no interior de sua cultura específica. Daí a importância de situá-lo como foco dos processos de escolarização e de educação em geral e, de modo mais enfático, neste momento em que é essencial repensar a organização escolar em face do contexto pandêmico.

A fragmentação do processo de aprendizagem dos(as) estudantes em etapas que não dialogam, a centralidade da prática pedagógica no(a) professor(a), a desvalorização dos saberes sociais e culturais e o planejamento do currículo focado apenas em conteúdos científicos são concepções que encaram os(as) estudantes como meros seres receptores de informações, desconectados(as) do mundo globalizado, além de concebê-los(as) de uma forma genérica, que os(as) naturaliza como simples estudantes de um determinado ano do processo de escolarização.

Nesse sentido, é preciso compreender que o ser humano é fruto das relações estabelecidas no grupo social em que vive e cresce, dependente das oportunidades e limitações que o rodeiam, sendo, cotidianamente, formado e conformado por esse campo de experiências. E faz-se necessário considerar que o mundo está cada vez mais pautado pela velocidade da era digital, que cria, liga, conecta espaços, tempos, culturas, eras, sistemas em linguagens múltiplas. A agilidade conquistada pelas tecnologias digitais desafia escolas e educadores(as), convocando a mudança, a fomentar práticas pedagógicas inovadoras que dialoguem mais com os sujeitos entre si e que coloquem os(as) estudantes como verdadeiros(as) protagonistas, criadores/as e produtores/as de projetos de vida que tragam mais sentidos e significados para suas trajetórias escolares que, no momento atual, precisam se inserir em contextos socioculturais cada vez mais interligados a ambientes virtuais.

Frente aos vários desafios apresentados, no contexto de reorganização do trabalho escolar, garantir direitos de aprendizagens significa reconhecer que a escola deve acolher tanto o(a) professor quanto o(a) estudante na sua integralidade cognitiva, social e cultural e considerar, ainda, as demandas dos(as) educadores(as) referentes a conhecimentos sobre as várias ferramentas, ambientes e linguagens tecnológicas que dialogam com o mundo contemporâneo, que é o campo nativo dos(as) estudantes das novas gerações. Assim, a empatia, o acolhimento e o diálogo entre estudantes e educadores(as), considerando suas necessidades de relacionamento social, são fundamentais para que ambos estabeleçam uma relação de confiança, de modo a garantir as trocas de experiências no processo de ensino-aprendizagem e favorecer que se complementem como sujeitos que se formam no ato de ensinar e aprender.

Entretanto, para permitir projeções de diálogo e de sucesso nas aprendizagens dos(as) estudantes, a escola precisa reocupar seu lugar como uma das principais instituições presentes em suas vidas. Apesar das limitações impostas à interação com os(as) estudantes e suas famílias, a escola precisa retomar sua condição referência para a proteção social, para o aprendizado da vida em sociedade, para o diálogo com as diferenças e a participação na vida social, com civilidade e de forma cidadã. Assim, a despeito do distanciamento físico imposto pelas medidas de enfrentamento à Covid-19, a escola poderá se reafirmar como lugar onde se aprende a entender e a respeitar o outro; como lugar do afeto, da acolhida, da sensibilidade; lugar onde é possível aprender, mas também errar e começar novos processos de aprendizagem.

A escola deve, portanto, promover o diálogo e estimular a reciprocidade de maneira inclusiva. Ou seja, precisa ser capaz de lidar com as diversidades e as complexidades dos seres humanos, compreendendo que a educação inclusiva ultrapassa a necessária acessibilidade pedagógica, curricular, linguística e comunicacional para as pessoas com deficiência, pois implica assegurar a todos(as) o direito ao conhecimento amplo e essencial. Ao se preocupar com esses aspectos, a escola acolhe os(as) estudantes na sua integralidade e possibilita um ambiente fértil e seguro para a construção de uma rede de apoio e de proteção a todos os membros da comunidade escolar, nela incluídos os(as) docentes que buscam suporte para o enfrentamento de suas dificuldades didáticas. Além disso, oferecer e assegurar o direito a uma educação de qualidade social também se configura como um fator protetivo para a sociedade, de modo geral, na medida em que possibilita, de forma democrática, a participação social tão importante na construção do mundo atual.

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  • por dupin